Rap-reportagem a voz e a vez das comunidades

O tema, geralmente, reporta ao cotidiano das comunidades, a música, o dia-a-dia, os projetos e as curiosidades. Os cenários são vários: uma praça, um córrego, um ringue de Box ou uma festa em uma favela. O repórter pode estar em uma bicicleta, no palco ou em baixo de um viaduto. A narração em forma de rimas, entoadas pelo repórter é grande novidade.

O rap

O rap nas periferias do país apareceu como forma de manifestação cultural e de protesto social. Segundo Marcos Aurélio Paz Tella, no seu artigo “Rap, Memória e Identidade”, o rap surge no Brasil como forma de afirmação da negritude e também como protesto contra a discriminação étnico-racial. Descendente direto do funk americano, o rap, em meados da década de 80, aparece como novo gênero musical nas periferias de São Paulo e aos poucos se espalha por todo o Brasil.

Os autores Aparecida Ribeiro, Babette Almeida e José Elias, no artigo “O Rap Reinterpretando na Rima o Dia-a-Dia das Comunidades”, afirmam que o “rap é uma expressão cultural que tem na rua o seu espaço privilegiado; é crônica do cotidiano da periferia; aponta para novas formas de socialização, nas quais a cultura local passa a ser referência central e instigar o protagonismo juvenil na construção da identidade; cria novas formas de mobilizar recursos culturais para enfrentar a lógica do mercado; é laboratório de experimentação (musical) para além da mesmice dos produtos culturais produzidos pela indústria cultural; reinventa a realidade quando posiciona os jovens da periferia como produtores culturais e não mais como fruidores passivos das mensagens da indústria cultural”.

O rap-reportagem: canal alternativo de comunicação

Fábio Féter, repórter da TV Brasil, foi o primeiro a fazer rap reportagem na televisão brasileira e acha que “o rap é uma linguagem majoritariamente de jovens que fazem parte das favelas”.
Apesar, da arte e da cultura da periferia, aos poucos, ganhar espaço na mídia, na grande maioria das vezes, o que se veicula nos meios de comunicação, quando o assunto é periferia, é a violência. Nesse contexto, colocado pelos especialistas, o rap aparece como um canal alternativo de comunicação ao conseguir firmar um discurso próprio, de oposição e de negação destes estigmas.

Para Fábio Féter, o fato de utilizar a rima é o que aproxima ainda mais o telespectador do repórter e o repórter dos entrevistados. Muitos deles participam, cantando o seu dia-a-dia, num processo de troca de experiências, muito típico no hip-hop.

Féter conta que desde a sua adolescência escreve e canta rap, produz e dirige programas de rádio. Ora era apresentador, ora locutor, atuava também como DJ de vez em quando. “Do acumulo de vivências, percepções, em 2007 nasceu o quadro RAPERIFA e partir daí passei a praticar a narrativa rap-reportagem num programa jornalístico independente exibido aos domingos na emissora REDE TV. Em 2008 fui convidado a desenvolver a nova linguagem jornalística pela TV Brasil”, narra Fábio.

Para o estudante de ciências sociais, Eduardo Caldeira, a primeira vista, esse método, causa um certo espanto, em função “da forma diferenciada de se fazer reportagem”. Mas ao mesmo tempo ele fica impressionado com o jeito de se trabalhar diferentes assuntos na rimas. Para o rapper e grafiteiro, Juliano Pereira, “as pessoas se sentem mais próximas, porque esta forma de abordar assuntos cotidianos acaba fugindo do formal”.

A partir de então, as matérias estão sendo exibidas no programa jornalístico “Repórter Brasil”. Os temas giram em torno de assuntos sócio-culturais, das ações sociais de comunidades e do cotidiano. “É a minha visão de mundo, é o meu jeito de ser, vestir, falar, rimar e abordar assuntos, personagens, projetos maravilhosos e importantes socialmente ainda não reportados, é a visão de um favelado com a responsabilidade de respeitar as pessoas nas matérias que desenvolvo”, diz Féter.

Confira uma letra de rap-reportagem:

“Rap Boxeador…” – de Fábio Féter
“Bela Vista – bairro paulista tradicional, ta com sono? Levante-se.
TV Brasil é tudo nosso. Pode chegar.
Nem tudo que parece ser é…
Você acha que debaixo do viaduto tem mendigo? Você acha que debaixo do viaduto tem bandido? Aqui tem um grande projeto do Nilson Garrido.
Assim mais conhecido esse é o Garrido, me disseram que era negro nem havia percebido.
Viaduto do Café, Bela Vista não era, só sei que era um lugar esquecido, em busca de um futuro melhor, quem diria, o viaduto tem academia.
Ringue de boxe, ginástica, é o projeto viver a esperança ta no olhar de quem crer”

Sugestões de fonte:

1. Fábio Féter – repórter do “Repórter Brasil”
Contato: fabiofeter@gmail.com

2. Juliano Pereira – rapper e grafiteiro, pesquisador da ONG Favela é Isso Aí
Contato: (31) 3282-3816

3. Eduardo Caldeira – estudante de Ciências Sociais

*Quem aparece na foto da matéria é Fábio Féter, repórter da TV Brasil, no Festival Favela é Isso Aí -Imagens da Cultura Popular, em Belo Horizonte.