Carnaval em BH: é ou não uma tradição da periferia?

Assim como no Rio de Janeiro, na capital mineira, muitas escolas de samba nasceram nas vilas e favelas. Porém, antes, já existiam outras manifestações carnavalescas, como os blocos caricatos e as bandas, que começaram a sair nas ruas de Belo Horizonte ainda no século XIX.

Por volta de 1897 foram os operários que organizaram a primeira manifestação de rua da cidade. Eles ainda estavam construindo Belo Horizonte quando saíram às ruas com suas carroças enfeitadas, comemorando o carnaval. Desde então os moradores das vilas e favelas vem trabalhando na realização das festas de carnaval na cidade. Tadeu Martins, diretor de eventos da Belotur e organizador do carnaval da capital, acredita que as pessoas da periferia estão envolvidas em todas as manifestações da época, pois participam com os seus próprio blocos, suas bandas, suas escolas de samba e também nos bailes populares.

Muita gente pensa que em Belo Horizonte as escolas de samba são tradicionais das favelas e os blocos caricatos dos bairros mais centrais. Para Luiz Carlos Novais, presidente da Associação Samba 10 (que reúne as escolas de samba da capital), tanto nos blocos quanto nas escolas de samba existe uma grande participação de moradores da periferia. Para ele, pelo menos 60% das pessoas envolvidas com os desfiles das escolas de samba são moradores de vilas e favelas. Segundo ele, os moradores da Pedreira Prado Lopes, do Conjunto Santa Maria e da Comunidade São Francisco de Chagas (conhecida como Buraco do Peru – no Carlos Prates) são os que mais se envolvem com as escolas de samba, sendo a maioria dos componentes das escolas Unidos dos Guaranis, Cidade Jardim e Bem Te Vi. Para Luis Carlos os blocos também são muito populares nas comunidades.

Unidos do Guarani tem a Pedreira como tema: “Pedreira Nosso Quilombo é Aqui”

A Pedreira Prado Lopes foi tema no carnaval deste ano. A Escola Unidos dos Guaranis desfilou com o tema “Pedreira Nosso Quilombo é Aqui”. O carnavalesco Mário César conta que a escolha do tema é uma comparação entre a favela do século XX com os quilombos do século XVIII. Para ele, existe uma semelhança entre os moradores dos antigos quilombos e as favelas das grandes cidades do nosso século. “Eu faço uma comparação entre a busca da cidadania dos quilombolas há séculos atrás e a atual luta dos moradores das favelas hoje, a luta do cotidiano, e o fato dos moradores de comunidades serem colocados à margem assim como os eles também foram”.

Quanto à participação dos moradores da Pedreira na construção do desfile, Mário César afirma que existe uma grande mobilização e uma participação maciça destas pessoas. Ele destaca que hoje é impossível fazer um carnaval só com arrecadação dos próprios moradores ou contribuições. “É fundamental investimento do governo, mas assim que recebemos a verba e compramos o material, a construção e produção contam essencialmente com a participação dos moradores”, afirma o carnavalesco. São eles os costureiros, pintores, grafiteiros e artesãos que produzem as alegorias.

Carnafavela e baile popular do Mantiqueira

O Carnafavela, na Barragem Santa Lúcia, está virando tradição na cidade. O objetivo é resgatar o carnaval de rua na periferia da capital. Quando a idéia surgiu, a principal intenção da comissão organizadora era de trazer o carnaval para o morro, uma vez que os moradores do Aglomerado Santa Lúcia deixavam de participar do carnaval em Belo Horizonte por problemas com os horários do transporte coletivo e, muitas vezes, pela falta de condições financeiras para pagar a passagem.

Já o baile popular da Mantiqueira surgiu há 19 anos a partir do encontro de amigos que se reuniam para arrecadar verba para uma creche do bairro. Hoje, o baile já se tornou uma tradição para as pessoas da região e também de outros lugares, e chega a receber um público de oito a 10 mil pessoas por noite.

Escolas contam com repasse do governo estadual para os próximos anos

As escolas de samba de BH desfilam há muitos anos com muitas dificuldades. De acordo com os envolvidos, falta estrutura e uma política especifica para o setor. Apesar deste quadro, muitos organizadores acreditam que as coisas vêm mudando nos últimos anos. Em 2009, o repasse de verba do governo estadual foi recebido com muita festa. “Há 22 anos o governo do Estado não entrava com subsidio. Sem investimento do poder público é impossível fazer um carnaval bonito, saudável. Apesar da verba ter sido liberada em cima da hora, muda a perspectiva para o carnaval do ano que vem, pois podemos começar mais cedo, comprar material antecipadamente. O comerciante não costuma ter material de carnaval o ano inteiro para vender. Eles não investem porque não tem garantia da festa ser realizada no ano que vem”, afirma Luis Carlos, que além de presidente da associação Samba 10, também é presidente da Escola de Samba Bem Te Vi.

Existe a promessa do calendário do carnaval de 2010 começar a ser planejado já em março deste ano. Para Luis é importante a realização de um novo cronograma para fazer um carnaval “que nunca vai ser esquecido”. “Existe mão-de-obra, o trabalho, força de vontade, mas o folião precisa ter a garantia de que a festa vai acontecer”, diz Luis Carlos

RESULTADO DO CARNAVAL 2009

Colocação das Escolas de Samba

1.Acadêmicos de Venda Nova com o tema “S.O.S Planeta Terra. O futuro chegou e agora
2.Canto da Alvorada com o tema “Da Era Dos Deuses Á Canto Da Alvorada É Todo Amor
3.Chame – Chame com o tema “HE! HE! MINAS GERAIS! Poesia da Canção” /
4.Unidos dos Guaranis
5.Bem-te-vi
6.Unidos do Onça

Colocação dos Blocos Caricatos

1.Mulatos do Samba
2.Bacharéis do Samba
3.Invasores de Santo Antônio
4.Inocentes de Santa Thereza
5.Metralhas
6.Corsários do Samba

SUGESTÕES DE FONTE

1.Luiz Carlos Novais – Presidente da Associação Samba 10
Telefone: 3277-6464

2.Tadeu Martins – Diretor da Belotur e Organizador do Carnaval de Belo Horizonte
Telefone: Assessoria de Comunicação da Belotur – 3277-9777